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Cochilava o leão à porta de sua caverna no momento em que a mutuca chegou.
- Que vens fazer aqui, miserável bichinho? Some-te, retira-te da presença do rei dos animais.
A mutuca riu-se.
- Rei? Não és para mim. Não conheço tua força, nem tenho medo de ti.
- Vai-te, excremento da terra!
- Vou, mas é tirar-te a prosa - disse a mutuca.
E atacou-o a ferroadas com tamanha insistência que o leão desesperou. Inutilmente espojava-se, e sovava-se a si próprio com a cauda ou tabefes das patas possantes. A mutuca fugia sempre e, ora no focinho, ora na orelha, ora no lombo, fincava-lhe sem dó o adunco ferrão.
Farta por fim de torturar o orgulhoso rei, a mutuca basofiou:
- Conheceste a minha força? Viste com de nada vale para mim o teu prestígio de rei? Adeus. Fica-te aí a arder que eu vou contar a toda a bicharada a estória do leão sovado pela mutuca.
E foi-se
Logo adiante, porém, esbarrou numa teia, enredou-se e morreu no ferrão da aranha.
Monteiro Lobato